http://www.roccatecidos.com.br/

http://www.facebook.com/roccatecidos

http://www.instagran.com/roccatecidos

Loja 1 - Av Hercílio Luz 924 loja 01 - Centro - Florianópolis/SC

Loja 2 - Rua Bernardino Vaz 134 - Estreito - Florianopolis/SC


Fone: 48 3225.2900


Tem uma dúvida sobre que tecido usar na sua criação? Envie um e-mail para
internet@roccatecidos.com.br

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Diário de couture 2: o croco da Givenchy, o almoço Atala-Ducasse e as alfaces da Armani

Acompanhando a semana de alta-costura do verão 2012 em Paris, Bruno Astuto manda notícias diárias aqui pelo site da Vogue. Já leu o Diário de Couture: dia 1? A seguir, o segundo dia.


Não consegui esperar até agora para contar para vocês o decolante desfile da Chanel a bordo de um avião que Lagerfeld construiu no Grand Palais. Aí vão mais detalhes da engenhoca: eram 120 janelas, 250 poltronas, 32 projetores de vídeos que recriavam o céu, corredor de 60 metros de comprimento e três semanas para construir e outra para montar. Chanel é Chanel, ponto final.

Mas o dia estava apenas começando e meu almoço foi no Plaza Athenée, com menu pilotado por ninguém menos do que Alain Ducasse e Alex Atala, dois titãs de suas respectivas cozinhas que misturaram as panelas dando Brasil na cabeça.
Alain Ducasse, José Maurício Bustani e Alex Atala

Teve mil folhas de mandioquinha, caviar de tapioca, licor de jabuticaba, oito pratos no total. A cumplicidade dos chefs era patente, com Ducasse lembrando o dia em que Atala o levou para fazer compras numa feira livre perto do D.O.M., em Sampa. O brasileiro não conteve a emoção e, em francês impecável, falou da honra de estar naquela tarde, naquele salão, naquela companhia. À minha mesa, o embaixador José Maurício Bustani, sempre afiado, comentava cada prato e se preparava para receber os fashionistas no desfile couture do brasileiro Gustavo Lins, em nossa bela embaixada, na Cour Albert Ier.

Gustavo, o único brasileiro com denominação haute couture da Chambre Syndicale de Paris, foi buscar na Espanha a inspiração de sua coleção primavera/verão 2012. Esqueça as castanholas e os pentes sevilhanos; os poás das dançarinas de flamenco eram espaçados e enormes, mas sutilmente aplicados em tons de cinza e marrom. É uma Espanha íntima, moderna, de silhuetas soltas. Minhas peças preferidas eram as mais coloridas, em especial um curto vermelho de um ombro só que fez várias clientes saltarem da cadeira. Foi bom também ver novamente nossa embaixada servir de cenário para um desfile…
Por falar em cores, foi um dia de coleções monocromáticas. Na Chanel, só deu azul. Na Armani Privé, verde. “Achei lima”, me resumiu Grace Coddington, diretora criativa da Vogue americana. “Achei alface, Grace”, respondi. “Não sou vegetariano. Adoro comer picanha”, rebateu Michael Roberts. E caímos todos na gargalhada…

A coleção era bem rica, cheia de brilhos, elaborações high tech, crocos poderosos, estampas pintadas à mão misturada a outras digitais, mas o conjunto da obra era boring, bem boring. Um verdume embalado por uma trilha meio cansativa, arrastada, algumas modelos perderam seus sapatos na passarela. A Armani ainda não conseguiu transpor para a passarela o sucesso que faz nos tapetes vermelhos hollywoodianos. Na primeira fila, vi Cameron Diaz, bastante simpática, Afef Tronchetti, primeira-dama da Pirelli, e Maria Buccelatti, da famosa joalheria especializada em prataria – bracelete dela, assinado pela filha, Lucrezia, era uma beleza.

Afef Tronchetti e Maria Buccelatti

Agora o melhor do dia: a apresentação da Givenchy, no número 19 da Place Vendôme. Apresentação, não desfile, porque Riccardo Tisci acha que passarela não combina com couture. Eram apenas 10 peças, mas que peças. Na primeira sala, uma série dedicada ao croco, com duas jaquetas de largar a família. Uma maneca passeava com um vestido de tule com aplicações de retalhos de couro de crocodilo, desmembrados e numerados um a um para depois serem costurados na tela, trabalho primoroso. Na série de cristais, obras de arte bordadas com franjas rebordadas por cima. Pela primeira vez, Tisci criou uma calça para a couture, na verdade uma pantalona bordada com miniflores que pareciam feitas de ônix.

Adeus à pureza virginal do branco e das transparências das últimas estações; preto e metalizados deram o ar da graça. A inspiração veio do filme Metropolis, o clássico de 1927 de Fritz Lang. Do enredo em si, pouco vi – afinal, que operária poderia pagar por uma daquelas peças que saem de 50 mil euros para mais, muito mais? Talvez a atmosfera déco ou o glamour opulento do fim dos anos 20, quando as ricas bailavam rumo ao precipício da crise de 29. Alguns temas foram explorados à exaustão: cruzes, estrelas, tachas, pregos. Tisci fez um retorno às origens de seu trabalho na Givenchy de maneira magistral, revisitando sutilmente os conceitos que lhe são caros. Se Donata Meirelles, nossa diretora de estilo, visse as sandalinhas, tomaria medidas enérgicas para estampá-las em sua coluna Quero Já da Vogue. E em seu poderoso closet, naturalmente.

Detalhe: uma modelo da Letônia passeava pelos salões com dois brincos de cristal pesadíssimos e um piercing nasal idem. “Tá doendo?”, perguntei, compadecido. “Muito”, disparou a maneca em tom franco e indefeso. Mas ela me mostrou o fio de platina que dava uma volta na orelha para evitar que seu lóbulo despencasse ali mesmo. Não há beleza que nasça indolor…

Conferindo também a restritíssima apresentação estava a chiquérrima artista, marchande e performer colombiana Victoria Fernandez, que acaba de abrir na Rue de l’Etoile, no 17e, um restaurante, o 12 Bis. É o point dos parisienses descolados – mais intelectuais que fashionistas -, com boa mesa e seleção musical. A casa só funciona às quintas e sextas-feiras, porque, segundo ela, são dias da semana não tão aborrecidos como uma segunda e terça nem tão melancólicos como um sábado e um domingo. Grande Victoria.

Para fechar o dia lotado de desfiles, tinha três opções no cardápio: o jantar da Givenchy no L’Avenue, a festa da Prada que teve Kate Moss como DJ e um fervo da Armani. Acabei pulando todos, jantando escargots no Chez Lipp com Marie Annick Mercier, cercado da vieille France, aquela que não segue moda alguma, clássica, sólida, eterna. A um dado momento, eis que chega Margherita de Pahlen, Agnelli de nascimento, a filha do L’Avvocato Gianni Agnelli e mãe do Lapo Elkann. Nesta quarta (25.01) a temporada de couture termina com os desfiles do libanês Elie Saab e do romântico Valentino, no Hôtel Solomon de Rothschild. Já já conto mais.


P.S. 1. De uma daquelas lojas de souvenirs da Rue de Rivoli saía em alto e bom som um ruído de rádio tocando a todo volume Ai, se eu te pego, do Michel Teló. E, numa festa de modelos da boate Vip Room, a música foi repetida três vezes, com batida de house para delírio dos presentes. É a nova Macarena, meu bem.
P.S. 2. Meu faro diz que o croco é o novo python. Oremos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário